Estavam juntos no sonho, ele segurava sua mão e a beijava, como se fosse algum doce. Sentados, lado a lado, ela não enxergava nada além daqueles olhos penetrantes, aqueles cabelos, aquela face, enfim, tudo que fazia parte daquele corpo a agradavam. Na verdade, as coisas tinham ficado mais bonitas desde o dia que os seus olhos o viram.
Em todos os dias que se seguiram, o sonho se repetia e era só isso que aparentava: estavam juntos e apaixonados.
A porta do quarto abria lentamente na manhã seguinte, olhou no relógio, era quase uma hora da tarde, e ele não teria nem levantado o telefone para ligar. Bom, então o que iria fazer? Deitou no sofá, ligou a TV, folhou algumas páginas do jornal. Despistou um amigo, uma festa e até uma janta. Queria se render a angústia de lembrar daqueles dias que rezava para que fossem soterrados na sua memória.
Nem ela mesmo entendia, só tinha certeza de uma coisa: se soubesse o quão importante ele seria, nunca teria o deixado entrar na sua vida. Sabe, não gostava daquela incerteza, daquela tristeza. Sempre foi melhor sozinha e é assim que deveria ser, mas, meu Deus, como seria bom ter alguém para compartilhar isso.
No meio de tantas e tantas ilusões, rendia-se em limpar as próprias lágrimas, que, quando encostavam nos seu lábios, tinham um gosto salgado, tentava as limpar enquanto as pontas das suas unhas mau cuidadas arranhavam o que sobrou do seu rosto.
Ela esperava que durante essa madrugada de agosto, ele despertasse e percebesse que ninguém nunca o amou como ela amava. Porra, que loucura colocar tudo no passado! Nem que alguém conseguisse o amar com toda força de qualquer existência, seria capaz de o amar em milhões de anos como ela em um dia.
Porém, só acha conforto em meados de seus sonhos quando consegue dizer com convicção que o ama, repetindo sozinha, imaginando que aquele ouvido realmente seja o dele. Era uma forma de vitória ter ainda como dizer isso. Mas tão triste que parece uma derrota.
"Ontem éramos três: eu, você e a felicidade;
hoje somos dois:
eu e a saudade"
Nenhum comentário:
Postar um comentário