- E qual seria seu problema moça? o detetive remexeu-se na barulhenta cadeira.
- Acredito que eu esteja sendo traída. Senhor, eu gostaria de ter certeza disso.
E assim, atento, olhou-a e amenizou a dor que ela sentia com aqueles profundos olhos verdes que, no fundo, diziam coisas inexplicáveis. E a cena ocorreu por mais alguns segundos, breves, cansativos, exaustivos.
- Pelo seu namorado? Marido?...
- Não, não senhor. -com lágrimas nos olhos, aquele chão marrom escuro fazia uma boa companhia. - estou sendo traída... por mim mesma.
O detetive estava confuso, acreditou que fosse uma piada de mau gosto.
- Como assim? Você está se traindo e quer ajuda para descobrir o que?
Com uma enorme solidão e um infinito vazio no fundo bem no finalzinho dos seus olhos, descobriu na janela uma boa companhia para um momento de desabafo como aquele. Vestia uma calça jeans com um tenis all star sujo, seus cabelos pretos batiam em sua cintura, porém, eram desvalorizados devido ao rabo-de-cavalo mau feito. Concentrou-se naqueles magníficos olhos verdes e finalmente, disse:
- Eu preciso de você, pode parecer algum tipo de piada, mas não é. Cansei daquelas minhas velhas atitudes e visões. Cansei, senhor... mas todo dia eu levanto da cama com um buraco no fundo do meu coração, e isso eu não consigo desejar nem para o meu mais fiel inimigo. Não adianta, não consigo. Eu mantenho as mesmas manias, as mesmas roupas, o mesmo perfume. Isso não seria uma forma de traição? Eu havia prometido a mim mesma que mudaria e que me tornaria melhor, me traio constantemente e não havia descoberto até hoje. Eu sonho com um dia que meus principios serão refeitos, que minha vida poderá voltar ao normal. Queria as coisas fossem como elas foram, queria mesmo, e dói saber que elas não vão voltar. Essa vontade de telefonar, essa vontade de levantar e gritar para o mundo que nem do meu próprio nome eu gosto.
O detetive hesitou um pouco, a confusão havia tomado conta de sua mente.
- E... como posso ajudá-la?
A moça agora, com lágrimas escorrendo pela face, deu uma risada e disse:
- Não pode, ninguém pode.
Jogou uma nota de 50 reais encima da mesa e foi embora.
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