alcool e insignificancia


Essa é a história de um moço cujos desejos e insatisfações talvez fossem mais impressindíveis que uma patinha felina sob a areia. Seu nome era João, tinha sentimentos de vitória nunca alcançados e dores no peito incuráveis. Tinha, se não me falha a memória, uns 17 anos e era moreno dono de lindos olhos verdes claros que poderiam facilmente ser confundidos com o brilho de um limpo mar.
Há dois anos atrás, tinha tudo. Uma namorada, um apoio, vários amigos... e agora?
Tem uma melhor amiga que não é uma pessoa. Era sua imaginação que falava mais alto todas as vezes que gostaria de falar com alguém, tinha paixões e visões que nunca, nem em um milhão de anos, poderiam acontecer. E doía saber disso, eu acho...
Acredito que tinha um ar ingênuo e simplesmente não sabia o que estava procurando. Certos tempos nossas dúvidas são as donas dos nossos pensamentos.
- João! - disse sua melhor amiga, dona Solidão
- Não vou conversar com você - respondeu irritado o garoto - as pessoas acreditam que sou louco!
Enquanto dizia essas palavras, o refeitório inteiro o olhava com julgamentos e palavras ditas bem dentro dos ouvidos alheios.
- Porque não? Você sabe que eu existo e que estou dentro de você.
Ele tinha certeza que ela estava completamente certa, contudo, admitir isso seria a mesma coisa que admitir que estava sozinho. Ninguém quer algo assim.
- Preciso internar-me em uma clínica para loucos... preciso me internar...
- Não adianta segurar firme nas suas calças - retrucou-o - não adianta fingir que não existo. Não adianta. Estou aqui e não vou embora. Não espero tristezas e angústias, sou sua companhia em momentos que deseja enganar-te com pessoas e mentiras, sou sua amiga quando todos foram embora, sou sua namorada quando você estiver completamente sozinho, sou, acima de tudo, tudo que falta em você.
- Ah é? - respondeu bravo- não me falta nada, não preciso de você.
- Tem certeza? eu acho que está enganado.
A enorme sombra apontava para a mesa que estava vazia ao lado do rapaz e vangloriava-se por ser a única a estar ali, e continuou:
- Eu vou embora se quiseres, mas não espere que eu um dia vá voltar. Apesar dos meus inúmeros defeitos eu sou sua fé em momentos de tensão, sou sua renúncia em momentos de dores, sou o sorriso em instantes de lágrimas. Eu sou a outra parte de você. E ninguém gosta de perder-se dentro de um vazio. Eu vou João... eu vou mesmo...
- Prefiro não ter pessoas ao meu lado do que perder um pedaço de mim, não vá.
Penso que talvez o rapaz não fosse louco, entretanto, estivesse um pouco perdido entre as enormes melodias que existem por ai. Não encontrou a sua ainda e eu sei que é difícil de encontrá-la. Mas não se engane: ela só aparece uma vez e depois que for embora, só resta você e a companhia e amizade da dona Solidão.
E o que te resta? Só você e ela sentados em um refeitório desejando ter meia taça de vinho para embriagar suas ideias.

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