Era uma noite de verão com um toque a mais: o vento fazia um chiado medonho durante todas as horas da madrugada. Ela estava abraçada num dos seus amigos - que para falar a verdade, naquele momento, não era tão amigo assim - até que ele saiu. Ela permaneceu sozinha sentada na frente a uma casa de jogos, com nada na sua cabeça segurando um maço de cigarro entre os dedos.
- Oi - ele disse um quanto tanto amedrontado
Ela o olhou com uma cara de antipatia até que percebeu quem era (você já vai entender). Sempre acreditou que gestos valiam muito mais que mil palavras, então levantou-se e o abraçou, e, suas palavras saíram como se fossem suspiros, seus últimos suspiros.
- Senti sua falta...
Ele a fitou com aqueles olhos castanhos-mel que tinha e deu um beijo na sua bochecha, como se não tivesse reação nenhuma. Bem... ele não tinha. Sentou ao seu lado para fazer companhia naquela noite cujo vento assobiava tão alto.
- Sabe, eu realmente sinto a sua falta.
- Eu sei. - ele disse quando aqueles olhos azuis o olhavam com tamanha intensidade
- Não sei porque, não sei mesmo. E me desculpa estar te falando isso, é que você desperta o lado bom que existe em mim. é pensando em nossos bons momentos que eu ainda possuo forças pra seguir em frente, é lembrando daquelas suas palavrinhas no canto do meu ouvido enquanto estávamos só nós dois sentados na areia da praia que me faz bem. Eu queria te pedir desculpas e...
- Por favor, não fala nada. Eu não quero ouvir.
- Mas eu preciso te falar, esse é o problema. O que eu mais quero é ter você de volta, tanto que às vezes esqueço de mim pra lembrar de ti. Aqueles casos eram um supositório pra te deixar ir e...
- Pára.
- Desculpa, eu não consigo. Eu te peço de joelhos pra volta pra mim, eu não aguento mais esse vazio no meu peito e essa dor no meu coração.
- E eu te peço de joelhos pra me deixar ir. Já passou, eu não quero mais sofrer e você sabe muito bem todas as nossas desavenças. Tudo que eu sempre quis foi te ter, e tu sabes muito bem desse pretexto, mas agora nós dois seguimos com a nossa vida e não adianta mais tentar... não chora, não adianta chorar, você não vai me convencer.
- Mas eu te amo.
- Você vai pegar agora esse pouco de esperança que existe em você e vai aplicar em alguém que realmente queira ela. Vai jogar fora essa sua saudade, essa sua insegurança, elas não estão te levando a lugar algum. Pega esse coração caridoso e ame quem queira seu amor. Tente entender que a sua vida tem sentido quando eu não estou por perto. Entenda que é muito mais, muito, muito mais do que só vontade que me traria de volta. Eu não vou mais voltar. Vive a tua vida, sonha os teus sonhos e realiza teus desejos. Você sempre vai ser especial pra mim, afinal de contas, sabe da história né. E por favor, saiba que a tua vida ultrapassa o simples fato de me amar.
- Não consigo, desculpa, mas eu não posso te deixar ir
- Busca em outros braços meus abraços, em outras bocas o meu beijo.
- Mas não é a mesma coisa.
- É até melhor, você vai ver..
Enxugou suas lágrimas, perdida no vazio de seu próprio pensamento. O amigo que tinha a deixado voltou, abraçou-a e beijou-a. Não foi a mesma coisa, e com certeza, não foi melhor.
"Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche."
(Martha Medeiros)
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