Sempre

A mulher trajada de verde, olhou para os rostos cabisbaixos na sala de espera e disse:
- As visitas para UTI agora estão abertas.
No mesmo instante em que as portas abriam-se, me levantei. Olhei com intensidade aquele corredor gigantesco com somente uma torneira no final dele, esperando que alguém pensasse em somente lavar as mãos dentre tamanha tristeza.
"Que angústia", pensei. Jurei que não seria assim, tão melancolicamente triste. Contudo, enquanto aquele percurso gigantesco até os quartos não acabava, me apoiei naquela pia e ali fiquei um bom tempo, fingindo que conseguia lavar minhas mãos. Enfermeiras datilografavam cartas no quarto ao lado e me encaravam com uma face insatisfeita, como se estivessem me mandando pra longe.
Box 3. Era lá que eu deveria ir. Numa tradução literal, chamar um quarto de UTI de caixa número três, não é um nome que agrada qualquer paciente ou até mesmo um parente. Mas ele realmente estava preso, literalmente lacrado. Como uma caixa. De lá ele não poderia sair. Neguei a situação, cheguei até a rezar para que tudo ficasse bem. Às vezes, nem Deus é suficiente.
Cheguei lá e o pobre do meu avô encarava o nada porque não tinha o que ver. Ele estava atado a cama, já que não podia sair dos aparelhos que o mantinham vivo. Cheguei lá, encostei naquela mão cansada e disse:
- "Vô", tu tens que sair dessa. Quarta eu me formo e o sr. tem que estar lá.
Nessa hora minha angustia piorou. Vi uma lágrima escorrer do rosto dele. Nesse momento, sem muitas forças para falar, ele suspirou:
- Segue em frente, sempre pra frente.

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